sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Alemanha, Áustria: Imãs advertem muçulmanos a não se integrarem

Centro Islâmico de Viena.
(Imagem: Zairon/Wikimedia Commons)

Stefan Frank, Gatestone Institute, 3 de Janeiro de 2018


Original em inglês: Germany, Austria:
Imams Warn Muslims Not to Integrate

Tradução: Joseph Skilnik

  • «Enquanto fora da mesquita se conversa muito sobre integração, dentro dela o contrário é pregado. Somente em casos excepcionais, trechos do sermão, e mais excepcionalmente ainda, todo o sermão, é traduzido para o idioma alemão...» — Constantin Schreiber, autor de Dentro do Islão: O que está a ser pregado nas mesquitas da Alemanha.
  • «Os políticos que enfatizam repetidamente a intenção de cooperarem com as mesquitas, que convidam os seus membros para conferências sobre o Islão, não fazem ideia de quem está a pregar o quê naquelas mesquitas». − Necla Kelek, consagrada activista dos direitos humanos e crítica do Islão, no Allgemeine Zeitung.
Na polémica que gira em torno dos migrantes na Alemanha e na Áustria, nenhum outro termo é usado com mais frequência do que «integração». Contudo, a instituição mais prestigiada por muitos migrantes muçulmanos, via de regra, não colabora muito neste empreendimento e não raramente se opõe a ele, qual seja: a mesquita. Esta é a conclusão de um estudo oficial austríaco, bem como de um levantamento do sector privado realizado por um jornalista alemão.

No final de Setembro, o Austrian Integration Fund (ÖIF), órgão do Ministério das Relações Exteriores, publicou o estudo: «o papel da mesquita no processo de integração». Para efeitos do estudo, funcionários do ÖIF estiveram em dezasseis mesquitas em Viena, participaram em diversos sermões à sexta-feira e conversaram com os imãs em segredo, isto é, quando os imãs se disponibilizavam a conversar, o que amiúde não era o caso. A conclusão, de acordo com o ÖIF, é que apenas duas das associações de mesquitas fomentam a integração dos seus membros. O estudo aplaude uma associação de mesquitas da Bósnia que também dirige um clube de futebol. Durante a conversa, o imã salientou: «qualquer país, como a Áustria por exemplo, tem as suas leis e os seus costumes e não me canso de dizer, é nosso dever religioso respeitar as normas e integrar-se como manda o modelo».

No tocante aos papéis de género, em todas as mesquitas em que estiveram, os autores foram surpreendidos pela quase total ausência de mulheres nas rezas à sexta-feira:

«Apenas três das mesquitas percorridas... proporcionam espaço reservado para as mulheres, reservado e ocupado por elas. Caso haja este tipo de acomodação, a maioria das mesquitas também transforma estes espaços à sexta-feira em lugares para os homens».

Separação por etnia

Salvo raríssimas excepções, as mesquitas de Viena são divididas de acordo com a etnia:

«Há mesquitas turcas, albanesas, bósnias, árabes, paquistanesas e outras, nas quais os sermões são, via de regra, proferidos exclusivamente no respectivo idioma da terra natal. Somente em casos excepcionais, trechos do sermão, e mais excepcionalmente ainda, todo o sermão, é traduzido para o idioma alemão».

Portanto as associações de mesquitas são «espaços fechados em termos de etnia e idioma». Esta diferenciação estimula a «integração social num ambiente étnico próprio e, consequentemente, a segmentação étnica». Em oito das dezasseis mesquitas avaliadas, esta propensão é ainda mais reforçada pelo «nacionalismo predominante, flagrantemente difundido».

A mesquita gerida pelo movimento turco Milli Görüs destacou-se pelo alto grau de radicalismo. Milli Görüs é uma das organizações islâmicas da Europa mais influentes e está intimamente ligada ideologicamente ao presidente turco Recep Tayyip Erdogan. De acordo com o estudo, o imã da mesquita de Milli Görüs «defende abertamente o estabelecimento de uma Ummah (nação muçulmana) politicamente unida regida por um califado». Atribui a instabilidade no Islão à fitna («revolta») trazida para a comunidade islâmica de fora para dentro. Segundo os autores do estudo, o imã «vê-se cercado em todo o lado pelos inimigos do Islão que querem impedir a comunidade islâmica de dominar o mundo conforme previsto nas profecias». Nos três serviços religiosos nos quais participámos, o tema crucial era a unidade dos muçulmanos: muçulmanos de um lado, «infiéis» do outro. De acordo com o estudo, algumas das declarações do imã indicaram uma «pesada visão do mundo impulsionada por teorias da conspiração», como por exemplo: «as forças que estão fora da Ummah fizeram tudo o que estava ao seu alcance para minar a percepção da Ummah pela própria Ummah».

A conclusão do estudo assinala:

«Em síntese, poder-se-ia dizer que das dezasseis associações de mesquitas avaliadas neste estudo, com excepção das mesquitas D01 (uma das poucas mesquitas de língua alemã) e B02 (a mesquita da Bósnia mencionada acima), que não promovem diligentemente a integração social dos seus membros. Na melhor das hipóteses não impedem que isso ocorra. Na maioria das vezes têm em si um efeito inibitório no processo de integração».

Conforme a matéria, seis das dezasseis mesquitas avaliadas (37,5%) cortejam «uma política que impede diligentemente a integração dos muçulmanos na sociedade e, até certo ponto, manifestam propensões fundamentalistas». Metade das dezasseis mesquitas examinadas «pregam uma visão do mundo dicotómica, cujo princípio central é a divisão do mundo em muçulmanos de um lado e o restante do outro». Constatou-se que seis das mesquitas praticavam o «enxovalhamento explícito da sociedade ocidental».

Recriminação ao estilo de vida na Alemanha

Observações parecidas foram feitas pelo jornalista alemão Constantin Schreiber que em 2016 passou mais de oito meses a assistir a serviços religiosos à sexta-feira em mesquitas alemãs. Schreiber, fluente em árabe, é conhecido como moderador de programas de televisão em árabe, nos quais explica como funciona a vida na Alemanha aos imigrantes. Publicou as suas experiências nestas mesquitas num livro que esteve na lista dos best sellers na Alemanha durante meses a fio: Dentro do Islão: O que está a ser pregado nas mesquitas da Alemanha.

Schreiber apresentou-se às associações das mesquitas como jornalista, revelando que pretendia escrever um livro de não ficção sobre as mesquitas na Alemanha. Pouquíssimos imãs se dispuseram em aceitar conceder uma entrevista. Numa ocasião, foi informado de que era «proibido» falar com ele. Normalmente os imãs com os quais era permitido conversar não falavam praticamente nada de alemão. «Ao que tudo indica, é possível viver na Alemanha durante anos a fio, com esposa e filhos e sequer ser capaz de falar alemão ao comprar pão», salienta Schreiber.

Um assunto habitual nos sermões que Schreiber assistiu nas mesquitas consistia em recriminações ao estilo de vida na Alemanha.

«Vira e mexe, como acontece na mesquita Al-Furqan (mesquita árabe sunita em Berlim), os muçulmanos parecem estar comprometidos com a ideia de que são uma espécie de comunidade com um destino em comum: 'vocês são a diáspora! Nós somos a diáspora! Eles (alemães) assemelham-se a uma torrente que vos aniquila, que vos destrói e tira de vos os valores e substitui-os pelos valores deles'».

Na mesquita sunita/turca Mehmed Zahid Kotku Tekkesi em Berlim, no sermão à sexta-feira, no dia anterior à véspera de Natal, o imã alertou para a ameaça do «maior de todos os perigos», o «perigo do Natal»: «todo aquele que imita outra tribo torna-se membro dela. É a nossa passagem do Ano Novo? As árvores de Natal têm algo a ver com a gente? Não, nada a ver com a gente!»

O imã da mesquita de Al-Rahman em Magdeburg comparou a vida na Alemanha com um caminho através de uma floresta sedutora, realça Schreiber. Os seus encantos têm o poder de desviar os muçulmanos, de afastá-los do caminho da virtude, de perderem o caminho na «mata densa» até serem «devorados pelos animais selvagens que vivem na floresta».

O Estado não tem uma panorâmica clara

O que chamou a atenção de Schreiber, ainda no estágio de planeamento das visitas às mesquitas, foi a falta de transparência envolvendo as mesquitas na Alemanha. Para começar, não existe um directório oficial de mesquitas. Ninguém sabe quantas mesquitas existem na Alemanha. O Website Moscheesuche.de, mantido pela iniciativa privada, é o único cadastro desta natureza. «De modo que as autoridades alemãs», salienta Schreiber, «dependem de cadastros compilados por um particular, que obviamente é caracterizado por um determinado posicionamento ideológico». Além disso, como a inserção de dados no cadastro é voluntária, é incerto se as mesquitas que desejam permanecer à socapa estejam lá cadastradas. Schreiber considera improvável que o cadastro esteja perto de ser concluído ou actualizado:

«Deparei-me com mesquitas que constam do cadastro, mas já não existem, pelo menos por enquanto. Ou então mesquitas recém inauguradas que não estão registadas em nenhum lugar, nem os serviços de inteligência nem as autoridades regionais sabem da sua existência».

Além disso, o pedido de Schreiber à prefeitura de Hanover revelou que as autoridades alemãs sentem-se constrangidas no tocante ao fornecimento de informações sobre as mesquitas da sua própria cidade. Um funcionário da administração local escreveu num e-mail: «por gentileza, forneça informações mais detalhadas sobre a finalidade do cadastro. Não queremos que estas instituições estejam sob suspeição generalizada».

Medo e silêncio

Schreiber ficou surpreendido com a reacção defensiva daqueles cujas profissões exigem transparência e cooperação. Como Schreiber queria certificar-se de que, na tradução dos sermões, não haveria nenhuma interpretação errada, contactou o que afirma ser uma das agências de tradução mais conceituadas da Alemanha:

«A agência solicitou o envio da transcrição de um dos sermões para análise e estimativa de precificação. A agência recusou o trabalho. O texto foi considerado 'fora da alçada habitual de trabalho' dos tradutores, uma vez que não havia ninguém suficientemente seguro para traduzir correctamente este tipo de texto».

Achar um tradutor dos sermões proferidos no idioma turco também foi difícil: «o simples facto de estar interessado neste assunto resultava na imediata acusação de que o que eu realmente queria era instigar «atacar o Islão».

Schreiber também se viu diante de forte resistência ao procurar estudiosos alemães especializados no Islão para conversar com eles sobre o conteúdo dos sermões. Professores universitários, cujos salários são pagos pelos contribuintes alemães, recusaram-se em providenciar informações sobre matéria relacionada com a sua própria especialidade.

«Durante meses a fio, enviei consultas a diversas faculdades de estudos islâmicos com as quais trocávamos ideias na nossa função de editores. Uma universidade ficou a enrolar-me durante meses com a desculpa de que ainda estavam a procurar a pessoa certa. Em 16 de Dezembro, isto é, três meses depois do meu primeiro pedido, o professor de estudos islâmicos escreveu-me que já não havia tempo suficiente para marcar uma reunião. Quando respondi que, se necessário fosse, poderíamos marcar outra reunião no início de Janeiro, não recebi mais nenhuma resposta. Vários professores da universidade pediram-me para que lhes enviasse os sermões, o que eu fiz de imediato. Após enviá-los não recebi mais nenhum e-mail, sequer uma confirmação do recebimento».

Segundo Schreiber, todo este trabalho mostrou ser uma «experiência interessante», a despeito do facto de estudiosos de estudos islâmicos e especialistas em Islão «serem por demais prestativos em se disponibilizarem em conceder entrevistas sobre questões de política actual». Entretanto, esta abertura não existe, quando se trata de sermões em mesquitas alemãs: «inúmeros especialistas evitam-me após receberem as minhas perguntas, sem responderem, de forma consistente, aos meus e-mails». Um estudioso do Islão  aconselhou-me, indirectamente, a abandonar o projecto, porque isso poderia, «hipoteticamente», «aumentar ainda mais o abismo». Porquê isto? Porque, segundo este estudioso de estudos islâmicos, «mesmo leitores liberais e tolerantes poderiam facilmente achar estes textos extremamente incompreensíveis e estranhos, bem como grosseiros».

Políticos ingénuos

A conclusão de Schreiber sobre os sermões que presenciou:

«Após 8 meses de pesquisa devo dizer que as mesquitas são espaços políticos. A maioria dos sermões em que participei visava resistir à integração dos muçulmanos na sociedade alemã. Quando o assunto se voltava para o estilo de vida na Alemanha, isto acontecia primordialmente em contexto negativo. Normalmente os imãs retratavam a vida quotidiana na Alemanha como ameaça e exortavam as suas comunidades a resistirem. A característica comum de quase todos os sermões é o apelo aos fiéis para se fecharem e não compartilharem».

Em «todas as mesquitas praticamente», Schreiber notou a presença de «dezenas de refugiados que não estavam há muito tempo na Alemanha». Eles também tinham sido alertados para o perigo da integração: «fora da mesquita há muita conversa sobre integração, o contrário é pregado dentro dela».

O perigo desta abordagem fica evidente pelo assassinato de Farina S., uma afegã que foi assassinada na cidade bávara de Prien. Há oito anos ela abandonou o Islão, converteu-se ao cristianismo e, dois anos depois, fugiu para a Alemanha. Em 29 de Abril, foi assassinada por um muçulmano afegão em plena luz do dia. Inúmeros muçulmanos que moram na cidade foram ao funeral, ao passo que as associações de mesquitas faziam de conta que o assassinato não lhes dizia respeito. Karl-Friedrich Wackerbarth, pastor da igreja evangélica de Prien, onde Farima S. era filiada, pediu às associações que condenassem o crime. Em Outubro, meio ano após o assassinato, respondeu a um pedido do Gatestone Institute: «lamentavelmente, até hoje», salientou, «ninguém se manifestou».

Wackerbarth acha que as associações islâmicas não querem emitir um comunicado contra as fatwas emitidas pela Universidade Al-Azhar do Cairo e de outras, segundo as quais os «apóstatas» (aqueles que abandonam o Islão) devem ser mortos.

Este quadro levanta a questão da razão do governo alemão acreditar que as associações de mesquitas o ajude a resolver os problemas. Não faz muito tempo, a consagrada activista dos direitos humanos e crítica do Islão, Necla Kelek salientou:

«Os políticos que enfatizam repetidamente a intenção de cooperarem com as mesquitas, que convidam os seus membros para conferências sobre o Islão, não fazem ideia de quem está pregando o quê naquelas mesquitas».





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