sexta-feira, 25 de agosto de 2017

... em questões políticas... e outras...



O Livro das Imagens

Os católicos não devem seguir
o papa Bergoglio em questões políticas

Nenhum católico está obrigado a sacrificar-se, a si ou aos seus, para benefício de um inimigo que o quer destruir. O que o papa Bergoglio proclama em termos políticos é uma absoluta novidade e não tem qualquer fundamento na tradição católica. Logo, não deve ser seguido porque ao papa não cabe inovar a seu belo prazer.

Sobre este assunto é importante ler o que escreveu Carl Schmitt que, não sendo teólogo, foi um dos mais importantes pensadores católicos na área da filosofia política. Assim, diz-nos ele que

«Os conceitos amigo e inimigo são para tomar no seu sentido concreto, existencial, e não como metáforas ou símbolos, não misturados e lavados através de representações económicas, morais e outras, muito menos psicologicamente, num sentido privado-individualista, como expressão de sentimentos e tendências privados. Eles não são contraposições normativas e 'puramente espirituais'. O liberalismo procurou, num dilema que para ele é típico (...) entre espírito e económico, dissolver o inimigo, dissolvendo-o num concorrente, do lado dos negócios, e num opositor na discussão, do lado do espírito.»

Ou seja: o papa Bergoglio, sempre tão crítico do liberalismo e do neo-liberalismo, adopta uma posição similar. Para ele não há inimigos, mas quando muito concorrentes no mercado espiritual onde, por via da sua dinâmica, o islamismo parece levar a melhor. O papa Bergolgio, em vez de afirmar as posições católicas, cai no erro do relativismo e coloca todas as crenças como semelhantes no dito mercado onde já nem vale a pena a discussão — se todas são legítimas para quê qualquer debate? Entronca aqui a recusa papal do proselitismo católico.

Em seguida, Schmitt acrescenta que

«Se se tem ou não por lamentável, se se acha talvez um resíduo atávico de tempos bárbaros que os povos se agrupem ainda, realmente, segundo amigo e inimigo, se se espera que a diferenciação venha um dia a desaparecer da Terra, se é talvez bom e correcto fingir, por razões educativas, que já não haja mais nenhuns inimigos, nada disso entra aqui em consideração. Não se trata aqui de ficções e de normatividades, mas da realidade.»

Ora, a realidade mostra-nos que a existência das categorias de amigo e inimigo continuam válidas. O desejável não se confunde com o real. Não é por negarmos os factos que eles desaparecem, ao contrário do que quer fazer crer a agenda pós-moderna cultivada da esquerda ao Vaticano. Para a esquerda cosmopolita e multiculturalista, para o papa Bergoglio, a distinção referida pode representar um anacronismo, um resquício de eras bárbaras («medievais», como gostam de dizer os ignorantes iluminados), mas não é por isso que deixa de estar presente e fazer sentido. Tal como ontem, o catolicismo e o Ocidente continuam a ter inimigos que os querem destruir. E não cabe ao católico deixar-se conduzir inocentemente ao matadouro. O católico pode aceitar o martírio — se ele for inevitável — mas não o procura de forma inconsciente. Isso seria suicídio e, consequentemente, pecaminoso.

«O inimigo não é, portanto, o concorrente ou o opositor em geral. O inimigo também não é o opositor privado que se odeia com sentimentos de antipatia. O inimigo é, apenas, uma totalidade de homens eventualmente combatente, isto é, combatente segundo uma possibilidade real, a qual se contrapõe a uma totalidade semelhante. O inimigo é apenas o inimigo público, pois tudo aquilo que tem relação com uma tal totalidade de homens, em particular com todo um povo, se torna por isso público. O inimigo é hostis, não inimicus em sentido mais amplo (...). A passagem muito citada 'amai os vossos inimigos' (Mateus 5, 44; Lucas 6, 27) diz 'diligite inimicos vestros (...) e não: diligite hostes vestros; não é do inimigo político que se fala. Também no combate milenar entre a cristandade e o islamismo nunca um cristão chegou ao pensamento de que, por amor aos sarracenos ou aos turcos, se tinha de entregar a Europa ao Islão, em vez de defendê-la».

Portanto, aquilo que o papa Bergoglio proclama vai contra toda a tradição, não só do catolicismo político mas das próprias Escrituras. A cristandade, como comunidade, sempre se defendeu da ameaça exterior — mesmo que pontualmente tenham existido alianças entre príncipes cristãos e muçulmanos. A ideia de se permitir que o Continente seja invadido sem qualquer reacção, a não ser a estúpida complacência, é algo de absolutamente inédito e não deve ser acatado.

«Não é preciso odiar pessoalmente o inimigo em sentido político e só na esfera do privado faz sentido amar o seu 'inimigo', isto é, o seu opositor. Aquela passagem bíblica toca tanto menos a contraposição política quanto mais quer destacar as contraposições entre bem e mal ou entre belo e feio. Sobretudo ela não quer dizer que se deve amar os inimigos do seu povo e apoiá-los contra o seu próprio povo.» (Carl Schmitt, O Conceito do Político (trad. de Alexandre Franco de Sá), Lisboa, Edições 70, 2015).

O papa Bergoglio não defende o seu povo, o povo católico. O papa Bergoglio, caso espantoso, coloca os interesses do seu povo abaixo dos interesses alheios. Logo, o papa Bergoglio não pode ser seguido pelo seu povo, nomeadamente em questões políticas nas quais se revela faccioso.

Como refere Carl Schmitt, não temos de odiar pessoalmente o inimigo. A Igreja não odeia pecadores, mas o pecado. Do mesmo modo não cabe aos católicos odiarem o inimigo enquanto pessoa. Mas cabe-lhes defender a sua comunidade e a sua Igreja. Sobretudo quando ocupada por quem não parece disposto a fazê-la permanecer.

O papa Bergoglio é intelectualmente desonesto. Serve-se da ignorância doutrinal de muitos católicos para fazer passar a ideia segundo a qual o que ele diz é doutrina da Igreja, não só em termos teológicos mas sobretudo políticos. Ao invés de ser uma referência, não se distingue de um vulgar político que usa e abusa da retórica e da ilusão.





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