quarta-feira, 17 de maio de 2017

Manipulação da mensagem de Fátima pela Rússia


Luis Dufaur, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, 3 de Maio de 2017

A aparição de Nossa Senhora em Fátima deixou uma espada encravada no cerne da Revolução anticristã.

Os católicos receberam a advertência de que como castigo para a impenitência «a Rússia espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja». Cfr. «Fátima: Mensagem de tragédia ou de esperança?»

A Rússia comunista apareceu assim como o inimigo por excelência. E esta advertência tornou-se mais cogente e actual neste ano do centenário da aparição de Fátima.

Jeanne Smits ex-directora do jornal da Front National:
a Rússia tenta voltar a mensagem de Fátima
contra o Ocidente
Jeanne Smits, ex-diretora e ex-gerente do jornal «Présent» ligado à Front National de Marine Le Pen, partido amigo do Kremlin, escreveu palpitante matéria sobre como a desinformação da «nova-Rússia» trabalha para se livrar do estigma e inverter astuciosamente os termos da denúncia profética.

Smits publicou um longo artigo a este respeito no seu site Reinformation.tv.

Segundo Smits, a manobra de guerra da informação encontrou o terreno bem preparado pela falsa ideia de que «o comunismo morreu».

Na fase actual, a propaganda russa tenta erigir em Moscovo um bastião derradeiro do cristianismo sitiado pelos inimigos. A inversão não podia ser mais completa e contrária à razão.

Segundo a montagem que está a ser espalhada entre muitos grupos de direita ocidentais, o comunismo inimigo de morte da Igreja católica não existiria mais na Rússia de Putin.

Mais ainda, essa «nova Rússia» teria passado a ser o baluarte da moral tradicional cristã diante de ideologias do tipo LGBT, de género, anti-vida, anti-família, etc., subprodutos do liberalismo que domina no Ocidente.

Desta maneira a imagem da «Rússia promotora de guerras e perseguições à Igreja» ficaria invertida. E os seus erros deveriam ser apontados com exclusividade aos países da ex-civilização cristã, de berço ocidental e católico.

Os velhos erros comunistas
não foram banidos da Rússia e estão a crescer
Smits ficou espantada vendo que em alguns meios dos movimentos conservadores que frequenta, parecem não perceber que esses erros não só não foram banidos da Rússia, mas estão a reforçar-se dissimulados sob vernizes enganadores.

O ateísmo de Estado, o igualitarismo filosófico, o niilismo moral, a ditadura absoluta do relativismo são erros com que a URSS montou uma revolta suprema contra Deus e contra a verdade.

E o comunismo bolchevique consagrou décadas para tentar instilá-los nas almas dos russos com uma perversidade que supera a dos crimes de sangue massivos que também praticou.

Estes erros produziram efeitos nefastos: por exemplo, o assassinato das crianças no ventre materno foi logo aprovado sem restrições na URSS, e a «nova-Rússia» continua praticando-o em proporções recorde.

O aborto foi trazido para os países ocidentais e elevado à condição de «direito» pelos agentes que ciclicamente faziam romaria até Moscovo para receber doutrinamento, conselho e consignas.

Estes erros acabaram instalados em quase todos os campos de actividade da ex-Civilização Cristã ocidental em decorrência de uma avalanche de leis, portarias e costumes promovidos por estes agentes.

Para pior penetraram na própria Igreja católica. Esta infiltração foi tão grave que 213 padres conciliares de 54 países elevaram uma petição ao Papa Paulo VI para que o Concilio Vaticano II condenasse os erros socialistas e comunistas.

Mas, o enigmático silêncio do Concílio a este respeito abriu as portas da Igreja para a infiltração e para a devastação. Agora a Igreja está abalada em decorrência deles.

Número de abortos na Rússia por cada 100 nascimentos em 2014,
pelo Estado da Federação Russa

A confusão criada pela Exortação Sinodal «Amoris laetitia» é uma recente expressão desta infiltração dos «erros da Rússia».

A cultura da morte – aborto, destruição do casamento e da família, etc. – foi erigida na cultura de Estado da Rússia escravizada pela revolução bolchevista de 1917.

No século XIX, Marx e Engels foram os teóricos alemães da utopia comunista, surgida fugazmente durante as agonias finais das Revoluções Protestante e Francesa.

Porém quem tirou o comunismo dos livros filosóficos mais ou menos inaplicáveis e fracassados no Ocidente foi bem um russo: Vladimir Ilyich Ulyanov Lenine.

Lenine elaborou a práxis da Revolução bolchevique, fez e comandou esta revolução, e conferiu ao comunismo um tom e um espírito incontestavelmente russo.

Mas a expansão dos erros do comunismo russo não correu assim tão facilmente. Ela até pareceu ameaçada e os partidos comunistas foram perdendo a capacidade de atear o ódio de classe e seduzir com a sua agenda igualitária emanada de Moscovo.

Foi então a hora do pensador António Gramsci. Ele formulou a via da Revolução Cultural hoje preferida pelo marxismo e seus seguidores no Ocidente, muitas vezes comodamente instalados e gordamente pagos na direcção de organismos como a ONU ou a União Europeia.

A Revolução Cultural de inspiração marxista gramsciana
poderá levar-nos mais longe na linha
do sonho tóxico de Lenine
Mas, o objectivo de Gramsci era só um: conseguir o que a revolução russa fundada por Lenine tentava obter mas não estava a conseguir. E provavelmente ir mais longe do que o líder comunista russo sequer imaginou.

Gramsci foi o grande pregador ocidental do método para difundir os «erros da Rússia».

Se a estratégia por ele concebida der certo conduzir-nos-à a uma situação análoga à que Lenine e os seus sonharam aplicar no ex-império dos czares.

Estes erros atacam as nações católicas ou apenas cristãs, e até ex-cristãs, com mais eficácia que as fórmulas escancaradamente leninistas. Mas estão a encontrar crescentes resistências que comprometem a vitória comunista final.

Um pouco por toda parte manifestam-se grandes, e até imensas correntes na opinião pública, que não querem saber desta Revolução Cultural e as suas propostas anti-vida, anti-família, anti-religiosas e destruidoras das nações e das culturas tradicionais.

Tentando explorar estas boas crescentes reacções, a propaganda do Kremlin passou a apresentar cinicamente a Rússia de Putin como um sedutor porto da salvação de onde pode vir o reerguimento moral e intelectual dos cristãos perseguidos.

E há quem acredita nisto, adverte Jeanne Smits.





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