domingo, 15 de janeiro de 2017


Armas insufláveis,

políticas religiosas e conservadoras:

a «maskirovka» forja novas mentiras sem cessar


«MIG 31» sendo insuflado perto de Moscovo.

Luis Dufaur (*)

Algumas das mais modernas armas russas puderam ser vistas e fotografadas num campo perto de Moscovo. Ali, trabalhadores manipulando tecidos sintéticos verdes e bombas de ar criavam armas impressionantes em questão de minutos, segundo informou o The New York Times.

O assustador MIG-31 cinza escuro aparecia subitamente como que do nada com a estrela vermelha nas suas asas. Parecia muito real sobretudo se fosse visto a 300 metros.

Mas na ex-URSS este truque é o mais velho da guerra. Faz lembrar o cavalo de Tróia, aliás este mais poético, ou a ordem corânica de Maomé  de os soldados velhos pintarem os cabelos brancos para parecerem mais jovens e fortes…

A Rússia montou um arsenal de disfarces e trapaças para as suas forças armadas, dentro do contexto mais vasto da guerra rotulada «maskirovka» (literalmente = dissimulação, engano).

Veja mais em Maskirovka: a guerra não-militar que invade e conquista.


Inflando um «camião com mísseis» perto de um «MIG 31» já pronto

A Maskirovka tem um papel cada vez mais importante para as ambições geopolíticas imperialistas da «nova-URSS».

«Se estudar as grandes batalhas da História, perceberá que o uso de trapaças vence sempre», disse o engenheiro militar Alexey Komarov. «Ninguém vence a jogar limpo».

Komarov supervisiona a venda de armas na Rusbal, ou Balões Russos.

A empresa fornece ao Ministério da Defesa da Rússia uma das ameaças militares menos conhecidas nos países que podem ser as suas futuras vítimas: um crescente arsenal de tanques, jactos e lançadores de mísseis infláveis.

A Rússia de Putin está a regressar ao cenário geopolítico, imiscuindo-se na vida política dos países ocidentais, empregando tácticas escondidas.

Silencia inimigos no exterior, manipula a Igreja ortodoxa e promove uma fingida contra-revolução conservadora conquistando pecuniariamente políticos e partidos nos países que quer submeter.

Uma farta rede de trolls, antigas redes de influência da URSS agora reactivadas e novas agências de notícias, TV ou Internet difundem falsas informações calculadas para enganar as audiências ou os internautas no Ocidente.

A «maskirovka» tem que manter o inimigo na incerteza, jamais admitir as verdadeiras intenções e usar todos os meios, tanto propagandísticos quanto militares, para conceder aos soldados do país a vantagem da surpresa, e revestir aos políticos seduzidos do Ocidente de uma máscara de conservadorismo de data recente.

Putin quer seduzir políticos ocidentais de recente conversão a posições «cristãs».
Na foto com François Fillon, então ministro de Relações Exteriores de França

A doutrina não hesita em apelar à desinformação política de alto nível e o uso de formas astuciosamente evasivas de comunicação.

É claro que as armas infláveis se encaixam bem nos estratagemas da maskirovka.

É um velho recurso para quem está em inferioridade de condições de combate, mas se é útil contra adversários decadentes, então vale tudo.

Vídeos no Youtube encarregam-se de mostrar as fabulosas novas armas que vão prostrar a NATO e os EUA enquanto os operários enchem de ar sacolas que virarão modernos tanques, aviões, lança mísseis e tudo o que servir para enganar sobre o verdadeiro potencial bélico russo.

A maior utilidade vem a revelar-se na camuflagem de ideias através da desinformação. A «nova-Rússia» apresenta-se como religiosa e conservadora se isso serve para desviar a atenção do adversário, dividi-lo e levá-lo à confusão e a uma capitulação.

Praticamente todos os grandes movimentos de tropas russas e soviéticas dos últimos 50 anos, da Primavera de Praga ao Afeganistão, Tchetchénia e Ucrânia, começaram por um truque simples e efectivo: soldados a chegar ao local de combate à paisana, explica o jornal americano.

Em 1968, por exemplo, um voo da Aeroflot, a companhia estatal de aviação soviética, transportando um número desproporcional de homens jovens e saudáveis, que subsequentemente capturaram o aeroporto de Praga.

Em 1983, soldados soviéticos disfarçados de turistas viajaram para a Síria, numa manobra que ficou conhecida como «camarada turista».

A aparência de misteriosos soldados usando uniformes camuflados em Cabul, no Afeganistão, e Grozny, na Tchetchênia, serviu como presságio ao envio de muito mais tropas, em 1979 e 1994.

O tanque T80 ainda não está pronto para enganar satélites americanos

Foi o caso dos «homenzinhos verdes» na Crimeia a partir de Fevereiro de 2014, ou do cerne das milícias separatistas «ucranianas» recrutadas no coração da Rússia ou transportadas directamente de guarnições do exército russo.

Estes antecedentes preocupam os estrategas e pensadores clarividentes, nos países vizinhos. Mas não tiram o sono aos decadentes. Ou aos cúmplices...

A Rusbal não revela quantos tanques infláveis já produziu, porque os números são sigilosos.

Mas a directora da firma Maria A. Oparina reconheceu que a produção cresceu muito nos últimos 12 meses. Emprega integralmente a maioria dos seus operários na costura das armas infláveis, na sua divisão militar.

«Na guerra, não existem acordos de cavalheiros», repete Oparina. «quem tiver os melhores truques sobrevive».

Vladimir Putin sabe bem disso, e paga o desenvolvimento das «novas armas» para enganar mais os «decadentes» ocidentais.


( * ) Luis Dufaur é escritor, jornalista,
conferencista de política internacional e colaborador da ABIM





Sem comentários: