segunda-feira, 19 de setembro de 2016


O «caso» Carlos Alexandre


Elogio dos vermes


José Mendonça da CruzCorta-Fitas, 14 de Setembro de 2016


O juiz Carlos Alexandre deu uma entrevista em que explicou quem era, e tudo o que disse de si está solidamente comprovado pela sua vida, a sua carreira, e o testemunho de quem o conhece ou com ele trabalhou. Mas o juiz Carlos Alexandre cometeu um erro grosseiro de avaliação: avaliou mal o país e o tempo em que vive, incomensuravelmente mais rascas do que julga ou desejaria. Compreende-se, pois, que logo lhe tenham caído em cima os barões do país pardo e da corrupção, obviamente acolhidos e aclamados na comunicação social avençada, e inevitavelmente acompanhados daqueles idiotas úteis que seguem qualquer carroça de pruridos politicamente correctos, na ilusão de mostrar equilíbrio e equidistância.

O juiz Carlos Alexandre avaliou mal.

Declarou-se católico praticante, e disse que a fé o estrutura e fortalece. Ofendeu o credo «laico» da redutora acepção socialista, menosprezou jacobinos e maçons.

Contou com alegria que tem uma família sólida e tradicional, com a qual se sente feliz. Desconsiderou, pois, as virtudes fracturantes.

Revelou serenamente que trabalha muito, ganha pouco, e vive uma vida de austeridade e contenção. Mostrou-se, portanto, displicente com uma governação que virou a página da austeridade, que defende a redução do horário de expediente para os trabalhadores (desde que do sector público), e celebra o fausto, (desde que reservado a quem tem políticas para as pessoas). E, pior, desprezou as nobres carreiras daqueles defensores da coisa pública que, à força do seu dinâmico optimismo, saltaram do Clio para o Mercedes S, do apartamento para o palacete e a casa de férias, da mediania para o enriquecimento sem causa ou explicação, do anonimato para a gloriosa inutilidade de algum observatório ou fundação.

O juiz Carlos Alexandre apresentou-se, em resumo, (e a sua vida e carreira, repete-se, parecem confirmar que é assim) como um homem sério e bom, incorruptível, estranho ao deslumbramento das mordomias, do dinheiro a rodos, dos pied à terre em Paris. Mais grave ainda: o juiz pareceu manifestar uma inabalável fé na Justiça, mesmo naqueles casos a que o programa do PS chama perseguição a políticos (seus).

Eis, pois, em pormenor e por extenso, o mais álacre manifesto contra o tempo novo português.

Que juiz deve servir, então, se Carlos Alexandre, que vai tão ao arrepio do miasma, não serve?

É fácil. Algum magistrado fiel como Santos Silva ou Silva Pereira; impoluto como Rocha Andrade; sensato, contido e escrupuloso como Costa; intocável como Ferro Rodrigues; polido como Galamba; sério como César; equidistante como Rangel; insuspeito como Nascimento; trabalhador como Nogueira; crível como Centeno; e que, no entanto, fosse frugal... como Sócrates.





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