sábado, 5 de dezembro de 2015


Os deputados e ex-deputados do PSD e CDS

em conluio com o lóbi dos invertidos



Alguns ainda não saíram do armário,
votam abstenção, mas nenhum é de confiança.

Impõe-se a depuração das fileiras.


PPD-PSD
Ana Oliveira
Ana Sofia Bettencourt
Ângela Guerra
António Leitão Amaro









António Lima Costa
António Rodrigues
Berta Cabral
Cristóvão Norte









Duarte Marques
Firmino Pereira
Francisca Almeida
Hugo Soares









Inês Domingos
João Prata 
Joana Barata Lopes
Luís Menezes









Maria José Castelo Branco
Margarida Balseiro Lopes
Mónica Ferro









Nuno Encarnação
Odete Silva
Paula Cardoso
Paula Teixeira da Cruz









Pedro Pinto
Rubina Berardo
Sérgio Azevedo
Simão Ribeiro









Teresa Leal Coelho
Vasco Cunha










PP
Adolfo Mesquita Nunes
Ana Rita Bessa
Assunção Cristas
Francisco Mendes da Silva








João Rebelo
Teresa Caeiro











quarta-feira, 2 de dezembro de 2015


O estado de graça é isto


João Miguel Tavares, Público, 1 de Dezembro de 2015

Há quem diga que António Costa não vai ter direito a estado de graça. Discordo. Ele já está em estado de graça. Pelo país inteiro, celebra-se a libertação do jugo passista como os franceses festejaram a libertação de Paris. Um novo David, munido de poucos votos mas muita pontaria, conseguiu derrubar o malvado Golias, que oprimia os pobres e desvalidos através da terrível austeridade. Basta olhar para a felicidade estampada nos textos de tanta gente: foi melhor assim do que se o PS tivesse ganho as eleições. Mais inesperado. Mais cruel. E, por isso mesmo, mais justo.

Para encontrarmos bons exemplos desse estado de graça basta ler o PÚBLICO dos últimos dias. José Pacheco Pereira, que tanto aprecia anunciar ao mundo a sua frígida lucidez, desta vez escreveu uma crónica onde todos os parágrafos padecem de acne juvenil, só pelo prazer de poder gritar: «Acabou!!!!». E reparem que não é um «acabou!!!!» qualquer. É um «acabou!!!!» nascido de dezenas de conversas com o povo oprimido da Marmeleira. Um «acabou!!!!» afinado com a luta antifascista. Escreve ele: «um alto e sonoro ‘acabou’ como antes do 25 de Abril se chegava ao ‘às armas’ da Portuguesa e de repente toda a gente gritava a plenos pulmões». O estado de graça é isto.

Rui Tavares, no seu texto de ontem, preferiu valorizar uma questão simbólica: «Não foram mencionados os títulos académicos dos novos ministros e secretários de Estado durante a tomada de posse do novo Governo. A ser verdade, é uma revolução.» Note-se que ele não faz a coisa por menos. «Uma revolução». Deixar de tratar Augusto Santos Silva por «professor doutor» é «uma revolução». Eu cá trocava alegremente a permanência de «professor doutor» pela impermanência de Augusto Santos Silva. Assim de repente, parecer-me-ia coisa muitíssimo mais revolucionária. Mas isso deve ser porque sou de direita. O imenso povo de esquerda, que nunca precisou de muito para se entusiasmar, acredita que a abolição dos títulos académicos é apenas o primeiro passo para a abolição de todas as desigualdades. O estado de graça é isto.

Também no dia de ontem, num texto intitulado «A estratégia de um governo que quer ir além da política de rendimentos», Paulo Pena explica as razões do «incomum afastamento do ministro das Finanças, Mário Centeno, do ‘pódio’ da hierarquia governamental». A tese, acompanhando os discursos de António Costa, é a de que as questões financeiras são agora assumidas como «instrumentais», e não «estratégicas», e de que esta nova «visão» é aquela que irá ser vendida na Europa, certamente para grande espanto dos burocratas de Bruxelas, que nunca ouviram falar em tal coisa. De facto, só um génio se lembraria de que o grande problema português não está na dívida mas na falta de competitividade da economia. Estou certo que mal acabe de explicar isto a Wolfgang Schäuble, António Costa, expelindo sonoros ulos de «eureka!!!!», irá provar ao mundo que é mais fácil empurrar um cilindro do que um paralelepípedo.

Mas Paulo Pena tem fé: se Costa for capaz de levar a sua avante, «talvez a expressão ‘um tempo novo’, que prometeu no discurso de tomada de posse, faça sentido». E conclui: «Mesmo que o não consiga, mais fácil parece ser a promessa que deixou aos seus ministros e secretários de Estado, na sala dos Embaixadores, no Palácio da Ajuda: ‘Foi para um projecto entusiasmante que vos convidei.’» Entusiasmante, de facto. O mal foi vencido. A esperança vive. O estado de graça é isto.





domingo, 29 de novembro de 2015


Irmandade do bem


Inês Teotónio Pereira, Ionline, 28 de Novembro de 2015

O rei vai nu, anunciam os senhores do bem, e por isso o superior interesse nacional é deles, é divinamente deles, porque só deles pode ser

Acabou. Acabou com mágoa mas sem saudade o pesadelo e uma época. Uma época de tirania, de rancor e de austeridade que tinha apenas como fim trágico e sádico o empobrecimento, a miséria; que tinha apenas como glória a humilhação do outro e a exploração do outro por outro qualquer. Acabou, acabou tudo. Ao fim de semanas de luta e de obstáculos vencidos, a irmandade do bem, unida por um anel de acordos forjado em nome desse desígnio maior que é o povo português, ganhou. O caminho foi feito de pedras, mas conseguiu-se resgatar da sombra do protesto e da penumbra, da rua mesmo, os partidos feridos e injustamente excluídos através do voto do direito de governar em nome do povo. Mas quem mais pode governar em nome do povo senão aqueles que sabem qual é a sua vontade? Só eles. Apenas eles.

Respira-se agora uma nova atmosfera, límpida e imaculada, que abraça a única ordem possível das coisas, agora repostas no seu lugar tal como uma moldura que é finalmente endireitada. Nem sequer chove. É de todos e todas o ambiente de esperança e de bondade, de prosperidade e de solidariedade, é nosso um novo desígnio ao virar da esquina do rio. Foram por fim arrancadas e desfeitas as correntes da austeridade. As amarras que subjugaram o país a uma cultura de pobreza, ao vício da caridadezinha que os tiranos do mal, mal-amados e mal-intencionados, enraizados nos escombros do fascismo e do catolicismo bafiento, exploraram, implantaram e que sadicamente, entre um ranger de dentes e um esfregar de mãos, prenderam todos os portugueses. Todos? Não: os ricos, os burgueses, os habitantes do pântano da hipocrisia e dos privilégios não entraram nessa lista negra. Saíram ilesos, com as suas armaduras reluzentes sem vestígios de uma luta feroz que não travaram nem sofreram.

Desprenderam-se finalmente as amarras de uma direita de excel mais preocupada com contas do que com pessoas, com exames do que com alunos, que escolheu a mesquinhez da matemática em detrimento da cidadania e da sexualidade – ou mesmo da Constituição, por Júpiter! Uma direita que gosta mais de banqueiros que dos bancos de jardim onde os pensionistas congelados nas suas reformas se sentam e se entretêm num jogo de cartas que todos os dias acaba da mesma maneira: sem esperança de ganhar.


Mas acabou. Acendeu-se de novo o brilho nos olhos dos velhos por um ou dois euros a mais. Apenas, dirão. Mas é um sinal, e o que é a vida senão um sinal? Hoje e amanhã, a irmandade do anel do bem salva e salvará os portugueses que vivem em Portugal ou no estrangeiro, os estrangeiros, os heterossexuais ou os homossexuais, as crianças ou os bebés. Todos e todas, e até aqueles que recusam o preconceito dos rótulos de género.

Foi ilegítimo, gritam os semidemocratas, enrouquecidos e enfurecidos pelo fel que lhes fere a garganta e desafina a voz. Ressabiados na dor de quem perdeu achando que ganhava, apesar de ter ganhado. Mas não, as vitórias são e serão sempre do bem, da irmandade, por mais equívocas que pareçam à luz de uma interpretação facciosa de quem já não manda apesar de viver num palácio.

O rei vai nu, anunciam os senhores do bem, e por isso o superior interesse nacional é deles, é divinamente deles, porque só deles pode ser. Não é, não voltará a ser dos ultraconservadores ou neoliberais que engordam com a miséria dos que exploram; não é, jamais será, dos que não mandam, eleitos ou não.

Um novo horizonte onde o sol se põe sem deixar de brilhar desvendou-se através do encanto de quem sabe manobrar. De quem sabe interpretar a justiça soltando os perseguidos e prendendo os que perseguem; calar os que transbordam ódio e dar voz aos virtuosos; criar riqueza através da forte convicção de criar riqueza; melhorar a educação do povo porque é dela o reino da administração pública; parar a sangria do coração de Portugal que é irrigado pela rede de transportes terrestres; descongelar tudo o que possa ir ao microondas; morder os calcanhares do monstro europeu com a fúria dos justos porque é lá que se fabrica o aço das amarras da austeridade. «After all, tomorrow is another day!», disse Scarlett O’Hara. Não, Scarlett: o nosso amanhã é hoje e já canta!