terça-feira, 1 de julho de 2014


Conúbio entre poder e direito.

A disputa entre Lotário II e Nicolau I
sobre o matrimónio.

Uma casuística tirada da história. (1)



Cardeal Walter Brandmüller

(Tradução para português por P. António Figueira)


SUMÁRIO

1. Premissa.
2. Os acontecimentos.
3. O cenário jurídico.
4. Aprender com a História.
5. Conclusão.


1. PREMISSA

A queda do Império de Carlos Magno no Ocidente e o cisma em relação a Roma do Patriarca Fócio de Constantinopla caracterizam o contexto político-eclesial em que se insere a disputa que, entre 855 e 869, sacudiu o reino e a Igreja e levou até o Imperador Ludovico a invadir Roma com o seu exército.

Esta disputa sobre o matrimónio deixou um rasto tão profundo na consciência dos contemporâneos que, ainda hoje, sejam as fontes, sejam as investigações acerca daquele rei franco são inteiramente dominadas pelo seu confronto com o influente arcebispo Incmaro de Reims e, sobretudo, com Nicolau I.

Na pessoa daquele Papa, o rei dos Francos encontrou um homem de extraordinária grandeza espiritual e de carácter. Até o próprio expoente da historiografia pontifícia nacional-liberal protestante Ferdinand Gregorovius escreveu a tal respeito: «Esta tragédia – a desgraça de uma rainha e a triunfante insolência de uma concubina real – agitou países e povos, Estado e Igreja, e deu ao Papa a ocasião de ser elevado a uma altura, em que foi envolvido por um esplendor maior do que aquele que lhe poderiam ter fornecido os dogmas teológicos. A atitude de Nicolau I perante este escândalo real foi magna e firme, a autoridade sacerdotal aparecia nele como um poder moral que salvava a virtude e punia os pecados... em um tempo bárbaro ...».





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