quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Universidade católica ou caótica?

Heduíno Gomes

Quem seguir relativamente de perto o que se passa na Universidade Católica Portuguesa não pode deixar de se interrogar sobre a sua natureza real no que toca ao cristianismo é à sua missão.

Uma universidade católica, segundo penso, terá duas missões principais.

Uma das missões é obviamente a de gerar uma elite técnica nas áreas em que lecciona, tal como qualquer universidade.

A outra missão – a primeira no que diz respeito à sua natureza e missão cristãs – seria a de formar nas áreas das humanidades e das ciências uma elite católica, formada solidamente nos valores cristãos. A universidade católica deve ensinar esses valores. Alguns dos alunos não aprenderem a matéria já é outra questão.

Essa tal universidade católica teria, pois, de ensinar os valores cristãos aos seus alunos. Para isso, os seus mestres teriam, eles próprios, de viver esses valores cristãos. Quando digo viver, não digo papaguear doutrina ou frequentar a missa.

Pois bem, o que vemos nós?

A Universidade Católica Portuguesa integra no seu quadro docente ou de palestrantes convidados – e até entre os seus dirigentes – uma série de professores que estão muito longe de corresponder à exigência de viverem os valores cristãos. Uns apenas papagueiam doutrina, outros frequentam a missa, alguns até têm a auréola de aparecer na televisão como católicos oficiosos (escolhidos por essas televisões anticristãs para representar os católicos ou sugeridos não se sabe por quem...), mas estão muito longe de abraçar uma concepção cristã do mundo. Não é preciso grande esforço para encontrar nesse quadro docente declarados ou acinzentados relativistas, liberais, economicistas, tecnocratistas, defensores de interesses de privilegiados contra os da maioria e da Nação, feministas, abortistas, charlatães das «novas pedagogias», «católicos progressistas» e até ateus confessos.

Que irá esta gente ensinar aos seus alunos? Ensinarão como ser cristão na vida cultural, política, económica e social? Ensinarão uma concepção cristã do mundo? Civilização cristã? Bem comum?

Dentro da sua linha objectivamente anticristã, os responsáveis da Universidade Católica Portuguesa programaram uma formação com alguns «formadores» abortistas. Não é novidade. Mas algumas pessoas denunciaram a situação e as altas competências académicas católicas retiraram a formação.

Para explicar o que se passa, só existem duas hipóteses: ou os responsáveis pela situação não sabem o que fazem ou então sabem muito bem o que fazem.
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(Para ilustrar o que se acaba de referir, reproduz-se o texto que se segue, denunciando a presença de manifestos abortistas como «formadores da UCP.)

Mulheres em Acção criticam
escolha de docentes pela UCP

1. A Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (UCP) está a lançar uma Pós-Graduação em Serviço Social na Saúde Mental, em parceria com a Associação dos Profissionais de Serviço Social.

2. Conforme consta do site da UCP, essa Pós-Graduação conta com a colaboração docente de destacados e públicos opositores da posição da Igreja Católica sobre a inviolabilidade do valor e dignidade da vida humana. Vários desses conferencistas e formadores colaboraram notoriamente pelo «Sim», no referendo sobre o aborto.*

3. Ora, a UCP é uma instituição da Igreja, integrada no «conjunto da missão da Igreja, enquanto serviço específico à comunidade eclesial e humana», que visa a «realização integral do Homem, inspirada nos valores cristãos» (cfr. Artigo 3.º dos seus Estatutos). Aliás, esses Estatutos estabelecem que o «ensino da UCP inspirar-se-á na visão cristã do homem e do mundo» (cfr. Artigo 9.º), pelo que «devem ser escolhidos docentes e investigadores que, para além da idoneidade profissional, primem pela integridade da doutrina» (cfr. Artigo 47.º).

4. A AMA - associação que conta entre os seus princípios a defesa da vida humana desde o momento da concepção até à morte natural – contesta que pessoas como as referidas no n.º 2 (não obstante a sua idoneidade profissional), que tão assumidamente propugnaram a liberalização do aborto, consigam ensinar em sintonia com a visão cristã em matérias como por exemplo «Valores, princípios e ética do Serviço Social». A participação dessas pessoas irá gerar, no mínimo, perplexidade e confusão. O nosso alerta tem por objecto a decisão da Universidade, e não as pessoas envolvidas, cujas opções livres não são aqui objecto de apreciação.

5. Não se trata de matéria de pouca importância, ou periférica em relação a esses valores. Como disse D. Manuel Clemente no dia 1 de Janeiro, «a paz – enquanto harmonia íntima e global de tudo quanto representa a verdade das coisas, começando pela verdade das pessoas – é obra e fruto da justiça, que nos manda dar a cada um o que lhe é devido e pertence. E a vida é a primeiríssima pertença de cada ser humano (…) Qualquer hesitação neste ponto, qualquer amolecimento cultural ou legal em relação a ele, é absolutamente um atentado à paz».

6. Algumas questões merecem esclarecimento: terão mudado os princípios da UCP? Terão os conferencistas mudado de convicções? Talvez a UCP pudesse esclarecer.

Associação Mulheres em Acção

Alexandra Tete

* FORMADORES E CONFERENCISTAS que publicamente defenderam o aborto (signatários da sua liberalização: médicos pelo Sim ao Aborto)
  • Dr. António Leuschner – Conselho Nacional de Saúde Mental
  • Dr. Álvaro de Carvalho – Programa Nacional de Saúde Mental – DGS
  • Dr. Francisco George, Director-Geral de Saúde
  • Prof. Doutor JM Caldas de Almeida – Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa
*Não assinou a petição por ser Director Geral de Saúde, mas apoia o aborto e disse-o em declarações à imprensa.


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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

As finanças do PCP e a sua morte anunciada

Heduíno Gomes

A implosão da União Soviética veio criar aos partidos comunistas alinhados com Moscovo vários problemas. O mais óbvio problema foi o do desprestígio político adicional a que ficaram sujeitos com a desagregação do «paraíso» terreno que apregoavam. Mas a este juntou-se outro que foi corroendo os partidos moscovitas: o fim do financiamento das suas máquinas de organização e propaganda.

Em alguns países, os respectivos partidos comunistas não eram mais do que um escritório de propaganda soviética, editando um semanário de pequena tiragem e de nenhum impacto. Noutros países, como na Itália, na França e em Portugal, os partidos possuíam uma implantação importante. Em Inglaterra e Alemanha federal, os partidos comunistas eram reduzidos e praticavam o entrismo nos partidos socialistas, respectivamente o trabalhista inglês e o social-democrata alemão.

Mesmo antes da sua implosão, a União Soviética já se encontrava numa grave crise económica que fazia adivinhar o desfecho. Nesse período, com Gorbatchov, foram reduzidos e mesmo suprimidos os financiamentos às quintas-colunas soviéticas. E quando o sistema cai, o corte foi total e geral. Não apenas da parte da extinta União Soviética, como também da Alemanha de Leste, e de outros «países irmãos», acabaram-se os cobres.

O poderoso Partido Comunista Francês, com a sua imponente sede, de projecto simbólico da autoria do camarada Niemeyer, na Place Colonel Fabien, em Paris, teve de conter despesas e vender os anéis. Concretamente, os Picassos e outros que orgulhosamente decoravam a sua sede foram passados a patacos. E o PCF acabou por sucumbir.

O mesmo se anuncia agora para o PCP, que sistematicamente vêm apresentando buracos nas suas contas e se prepara para despedir uma série de funcionários.

A fonte de financiamento do PCP eram simbolicamente as quotizações. Mas mal davam para mandar cantar um cego. Internamente, depois do 25 de Abril, outra fonte eram também os municípios que dominavam, e que, pela redução da sua implantação política, têm vindo a perder. O mesmo se pode dizer dos sindicatos, que pagavam os ordenados dos funcionários do PCP e a sua propaganda, o que ainda hoje vemos.

Todas estas receitas e mais algumas geradas por certas estruturas económicas montadas no período ascendente são insuficientes para manter o aparelho encomendado pelos soviéticos – desde sempre os grandes financiadores –, que já não existem para pagar a encomenda. O PCP tinha também uma especial ajuda, em dinheiro e propaganda, da Alemanha de Leste. Tudo isto acabou. E com isto acabará por sucumbir o clássico PCP.
É pena que Cunhal não tenha vivido o suficiente para assistir.






Dos arquivos do Partido Comunista da União Soviética

(13 octobre 1983)

«Très secret. Du KGB au Comité central du Parti communiste de l'Union soviétique»:

«Au camarade Ponomarev, directeur du Département international,Compte-rendu de la rencontre avec le camarade Gaston Plissonnier(PCF) : conformément à vos instructions du 23 septembre dernier, la rencontre a eu lieu à Berlin avec le camarade Plissonnier et son homme de confiance, lors de laquelle nous avons remis aux amis français la somme d'un million de dollars qui leur a été assignée. Pour des raisons de sécurité, le camarade Plissonnier a refusé de signer sur place le reçu avec l'argent livré, se référant à un accord avec Moscou. Néanmoins, il a ordonné à son homme de confiance de signer le reçu de livraison sans indiquer le montant de la somme.»

L'aide apportée par le PCUS était aussi matérielle et concernent également les journaux affiliés au PCF. De 1982, année de la première livraison, jusqu'en 1989, la dernière, ceux-ci ont reçu gratuitement 4 058 tonnes de papier[13]. Le 10 juillet 1987, le Politburo approuve, « suivant la demande du PCF », la livraison de 1 300 tonnes de papier par an pour les années 1987 et 1988.

Pour la seule période de 1971 à 1990, le PCF encaissera cinquante millions de dollars (Parti communiste italien : 47 millions, Parti communiste des États-Unis d'Amérique : 42 millions).

Le secrétaire général de la CGTHenri Krasucki, membre du bureau politique du PCF, a demandé en mars 1985 au conseil central des syndicats de l'URSS d'accorder à son syndicat une aide urgente de 10 millions de francs (1 million de roubles convertibles). Cette demande a un caractère strictement confidentiel et seuls les dirigeants de la CGT membres du comité central du PCF ont été informés de cette demande. Cette aide sera accordée en 2 versements en 1985 et 1986 de 500 000 roubles provenant du comité du tourisme et d'excursion.


Guerra civil ou guerra entre o bem e o mal?

João j. Brandão Ferreira
O historial das guerras civis em Portugal
não é lá grande coisa.
Parece (do que há registo) que a primeira desavença séria se deu no reinado do senhor rei D. Afonso II, um conflito de poder entre ele e as irmãs; depois houve desavenças graves no reinado de D. Sancho II, que acabou deposto e substituído por seu irmão Afonso que veio a ser o III; por duas vezes as hostes de D. Dinis e do seu fogoso filho, o futuro Afonso IV, se defrontaram, valendo a rainha Isabel, que veio a ganhar a Santidade.

A crise de 1383/1385 foi de uma gravidade extrema e partiu o Reino ao meio, ganhando (felizmente) a vertente nacional; podíamos ter acabado logo aí.

A família real e as casas nobres do país desentenderam-se após a morte do douto e infeliz rei D. Duarte, o que só veio a ser sanado em Alfarrobeira, em 1449, com a infausta morte do infante D. Pedro, o «das sete partidas».

O sangue correu, novamente, no reinado de D. João II, até este conseguir debelar as duas conspirações feitas contra ele por elementos da alta nobreza, onde também entrou a mãozinha castelhana.

Em 1580 desentendemo-nos de vez, o que foi aproveitado pelo sagaz Filipe, que chamou um figo à corrupção de grande parte do alto clero e nobreza e zás: comprou-nos, conquistou-nos e herdou-nos! É o que acontece às árvores que se deixam apodrecer por não serem podadas a tempo: morrem.

Lá nos reabilitámos com a «Restauração», mas…

A situação piorou muito no século XIX, após as invasões francesas, a Corte no Rio de Janeiro e as influências jacobinas da Revolução Francesa, à mistura com o domínio político/económico Britânico. Em resultado de tudo isto, e da perda do Brasil, a família real cindiu-se, idem para o exército e, por arrastamento, toda a Nação.

A coisa foi feia de se ver, com o eclodir da pior guerra civil, entre 1828 e 1834, logo seguida de duas outras, a «Maria da Fonte» e a «Patuleia», em 1846/1847.

Nunca mais recuperámos disto até hoje, mesmo tendo em conta o período do «Estado Novo».

A transição da Monarquia para a República causou outro grave afrontamento e, o que se lhe seguiu, não sendo uma guerra civil clássica, configurou uma calamidade conflitual terrível que durou 16 anos!

Mesmo no período da Ditadura Militar e no da vigência da Constituição de 1933, ocorreram cerca de uma dezena de golpes militares, com apoios vários, terminando com o de 25/4/1974, em consequência do qual o país esteve novamente à beira da guerra civil, travada «in extremis», em 25/11/1975.

Enquanto isto, pelos antigos territórios ultramarinos deflagraram conflitos que vieram a causar mais de um milhão de mortos. Nunca saberemos exactamente quantos.

Tudo o que se apontou configura uma situação de muito pouco «juízo», ao longo dos tempos…
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Depois de 1976 liberalizou-se, desregrou-se e relativou–se (quando não se subverteu), tudo: as leis, as regras, os valores, os princípios, os deveres, os direitos, as contas, etc. Tudo.

E como se foi gastando à tripa forra e dando subsídios a quase todos, andava toda a gente contentinha. Pois haverá alguma cidade cercada que resista a um burro carregado de ouro?

Ou posto de um modo mais modernaço, quem vai (isto é, ia) passar férias a Cancun, mesmo sendo a cartão de crédito, insurge-se contra o quê?

Em síntese, finalmente houve um país que pôs em prática, na sua plenitude, os «slogans» do «Quartier Latin» no recuado Maio de 68…

Bom, chegámos à beira de mais um precipício.

Ainda não se contam espingardas, mas há uma quantidade enorme de «democratas» que, via «net», aspiram cortar cabeças uns aos outros. Mas enquanto for só na net

Sem embargo uma enorme guerra civil já começou há muitos anos e aparece estampada no papel, no som e na imagem da comunicação social, à frente de todos. E os indígenas – que somos todos nós – à força da agressão constante já entendem as coisas como «normais», por habituais.

Ora o que parece ser um facto incontroverso é que assistir a um qualquer telejornal é um puro exercício de masoquismo.

Deixemos as desgraças que vão por esse mundo fora e concentremo-nos nas nossas.

Comecemos pela política, pois os actores da política, pela sua permanência e exemplo marcam o quotidiano da «Polis».

O espectáculo é de guerra civil, permanente, partidária e entre órgãos de soberania, com grande falta de elevação, ataques pessoais, «bota abaixo» e desrespeito por tudo e por todos!

O bloqueamento da Justiça, o comportamento de muitos dos seus agentes e o tratamento mediático deste sector fundamental da sociedade é simplesmente lamentável; a indisciplina nas escolas, as mudanças constantes e experiências delirantes, do sistema de ensino, é o maior «calcanhar de Aquiles» da Nação; o desregramento financeiro, em praticamente todos os sectores do Estado, é aterrador; o comportamento dos sindicatos extravasa tudo o que é de bom senso e devia ser permitido; a sobranceria, privilégios e falta de controlo do sistema financeiro é um vector de desequilíbrio e injustiça permanente; as Forças Armadas são destruídas e ignoradas implacavelmente e as Forças de Segurança são minadas nos seus fundamentos.

A Diplomacia não tem a menor acção na defesa dos objectivos nacionais permanentes e temporários de Portugal, pois os sucessivos governos deixaram de ter política seja para o que for, a não ser para se manterem no Poder e andar de mão estendida para Bruxelas (agora, Berlim).

Com um pano de fundo destes (muito aligeirado, aliás) a sociedade sofre-lhe as consequências e desagrega-se.

Com todos os «ismos» na pantalha da escrita, da imagem e do som, correndo transversalmente todas as artes e espectáculos, o pessoal exorbita: os casos de corrupção ou suspeitas de, vertidas nos noticiários, acompanhados dos crimes mais repugnantes e do aumento constante da criminalidade, que as tiradas demagógicas não iludem; o envolvimento cada vez maior de agentes das Forças de Segurança e, até, de investigação criminal, em actos criminosos; suspeitas de pedofilia na Igreja e fora dela; o número de vigarices, desde os clubes de futebol às autarquias, etc., que se vão descobrindo, são de molde a desmoralizar o melhor candidato a santo!

Ou seja, o país corrompeu-se e desmoralizou-se profundamente e, agora, anda tudo de cabeça perdida sem saber o que fazer.

E tudo numa correria infrene debaixo de um dilúvio mediático que impede qualquer aferição e reflexão séria sobre tudo o que se passa…

Razão tinha o Papa Bento XVI, quando logo no início do seu pontificado, veio dizer que a prioridade número um, para a Igreja, devia ser o combate ao «Relativismo Moral».

Pois este parece ser o cerne de tudo isto, o que não é mais do que a continuação da eterna luta entre o Bem e o Mal.

E as rupturas podem começar a surgir em catadupa.

Um exemplo para terminar:

Um jovem professor de português colocou aos seus alunos, de 13 e 14 anos, o seguinte tema para uma composição: «acabas de fazer 13 anos e decides pôr fim à tua vida. A tua decisão é irrevogável e resolves explicar as razões da angústia que te atormenta. No texto que redigires refere os acontecimentos da tua vida que causaram esse sentimento».

Que pedagogia ou desequilíbrio levará um «professor» a escolher um tema destes numa turma de adolescentes?

O Bem triunfará do Mal?

Que nos diz a Razão e a Esperança?


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