terça-feira, 6 de novembro de 2012

Unanimidade homicida?


Nuno Serras Pereira

Depois da apresentação, por parte dos partidos políticos com assento na assembleia da república, de projectos de lei distintos, díspares mesmo contraditórios entre si eis que, após amenas conversas em plenário, votaram por unanimidade a «lei» nº 25/2012, de 16 de Julho, que «regula as directivas antecipadas de vontade, designadamente sob a forma de testamento vital, e a nomeação de procurador de cuidados de saúde e cria o registo nacional de testamento vital (rentev)». O nome traz já em si todo um programa necrófago (sim, necrófago porque esta gente alimenta-se de morte), que é confirmado quer pelo conchavo extraordinário daqueles cujo objectivo continuado sempre foi a fractura, e a devastação ou aniquilamento da pessoa humana, abominando qualquer conciliação; quer pela interpretação ambígua a que a «lei» propositadamente se presta. Aliás foi essa mesma ambigenia que ocasionou a unanimidade, uma vez que por ela se abrirá a porta à eutanásia – primeiro, por omissão, em seguida, pela acção.
 
Uma vez formada e lançada a bola de neve inevitavelmente se seguirá o alude. Quando, em nome do consenso se barganham os princípios e valores inegociáveis o resultado só pode ser uma catástrofe.

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