sábado, 10 de setembro de 2011

Não esquecemos!

Polémica por doador de esperma ter 150 filhos
nos Estados Unidos

O diário New York Times difundiu esta semana a história de Cinthya Daily, uma mulher que descobriu que o bebé que concebeu há sete anos com sémen de um doador tem pelo menos 150 meio-irmãos, um caso que evidência como o milionário negócio da fecundação artificial está fora de controlo.



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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Educação
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Da doença mental pedagogista e igualitarista
ao egoísmo liberal

Heduíno Gomes
Vivemos há decénios sob o domínio dos doentes mentais pedagogistas e igualitaristas na educação, que produziram a miséria de ensino que conhecemos. Eis que agora os liberais ganham fôlego e pretendem tomar o seu lugar para conduzirem o sistema à anarquia total (sim, ainda é possível haver mais anarquia do que a que existe!), bem calculada ao sabor dos interesses do complexo pedagogico-industrial e das famílias com posses para colocar os seus rebentos nos colégios ricos.
Curiosamente, esta guerra tem vindo a ser especialmente travada por um certo número de católicos de salão atrás do «Fórum para a Liberdade de Educação», que assim demonstra bem os seus sentimentos caridosos a coçar-se para dentro. Esta seita pseudo-cristã está-se simplesmente borrifando para uma estratégia nacional, para um sistema nacional de ensino de qualidade para todos e ainda mais para as crianças e jovens que não sejam os seus. Agora, a esses católicos de salão juntam-se as hostes liberais.
Que pretendem eles?
Demos a palavra ao liberalóide João Carlos Espada, que, em recente artigo no Público, sintetiza o pensamento de Nuno Crato, igualmente expresso no livro Mudar, de Passos Coelho.
1 – Na educação tem de haver «concorrência». «A chave do milagre sueco chama-se concorrência.» – suposto milagre, dizemos nós.
2 – O Estado não tem nada a ver com a educação – dentro da paranóica perspectiva liberal.
3 – Cada chafarica deve poder instituir o seu sistema de ensino, portanto sem sistema nacional, sem plano estratégico nacional, sem sistema nacional de ensino. A palavra mágica é «autonomia das escolas» – não apenas nos aspectos administrativos mas em tudo, incluindo os curriculares, exames, etc.
Voltaremos oportuna e abundantemente ao assunto. Entretanto, ver:
http://maislusitania.blogspot.com/2011/03/perolas-dos-nossos-politicos-e_08.html
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Vítor gastar

João Cândido da Silva

Há por aí um "reality show" em que ganha quem conseguir perder mais peso durante o tempo de duração do concurso.


Há por aí um "reality show" em que ganha quem conseguir perder mais peso durante o tempo de duração do concurso. Entre os contribuintes e o Estado, decorre há vários anos uma competição semelhante. O problema é que não jogam todos com as mesmas regras.
Neste passatempo desequilibrado, uns têm de emagrecer mesmo que não queiram ou não possam. E enquanto definham, o mais anafado de todos os concorrentes não só decide como, quando e quanta massa devem os outros perder, como se permite continuar a engordar ao ritmo das promessas sucessivas de que amanhã é que há-de começar a fazer dieta. O problema é que o amanhã nunca chega.
O documento de estratégia orçamental apresentado pelo ministro das Finanças tem, pelo menos, uma virtude. Mostra como as metas de redução do défice e da despesa pública inscritas em sucessivos programas de estabilidade e crescimento nunca foram cumpridas. Os governos sucederam-se desde a adesão de Portugal à Zona Euro, as garantias de que a doença das finanças públicas iria ser alvo de extermínio também foram renovadas ano após ano, mas nem o Estado emagreceu, nem os contribuintes deixaram de ser explorados, sempre a caminho de ficarem apenas com pele e osso.


Em todos estes anos que já se contabilizam por uma década, o Estado traçou metas reluzentes de saneamento das suas contas, mas alimentou falsas expectativas e foi sempre cedendo às tentações que lhe foram lançadas ao caminho pelos grupos de pressão. Portou-se como a vítima de obesidade que bebe um copo de leite magro ao pequeno-almoço para ajudar a engolir a bola de Berlim com creme. Isto nos dias de apetite moderado.
O documento que estabelece os objectivos da política orçamental para os próximos anos promete, novamente, romper com o círculo vicioso que matou a credibilidade do país e que o força, agora, a um internamento de desintoxicação. A análise da informação permite perceber que, já este ano, o contributo da redução da despesa para reduzir o saldo negativo das finanças públicas será superior ao que virá da receita, apesar do golpe que o Governo se propõe perpetrar nos bolsos de quem sustenta as administrações públicas. E conclui-se, também, que esta tendência se manterá até 2015.


A experiência passada aconselha a que se veja para só depois se poder acreditar. E uma atitude prudente como esta ainda ganha mais justificação caso se recorde que, antes de chegarem ao poder, os seus actuais inquilinos despachavam a resolução dos problemas com o vago combate ao desperdício e aos gastos injustificados, tendo já ficado claro que a primeira coisa que não quiseram desperdiçar foi a oportunidade de sacar mais dinheiro onde este estava a jeito de ser sugado.
A meta de chegar daqui a quatro anos com o défice próximo do zero é ambiciosa. Nunca foi atingida num regime democrático que inscreveu no seu código genético a original equação que permite distribuir riqueza antes, mesmo, de esta ser criada e que se transformou numa espécie de derradeira república socialista soviética, com uma economia devastada.

Para inverter o trilho de empobrecimento e libertar recursos para retomar uma trajectória de crescimento, é preciso, desta vez, que o candidato mais necessitado de fazer dieta cumpra de forma escrupulosa os objectivos que anunciou. A esperança que resta é que o ministro das Finanças não queira chegar ao final do mandato com a alcunha de "Vítor gastar".
 

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A mais grave das crises

Pedro Vaz Patto
Pouco a pouco, vai crescendo a consciência da crise demográfica que atravessamos, em Portugal e na Europa. Trata-se de uma crise estrutural que, mais do que a crise financeira, compromete o nosso futuro. Aliás, o próprio financiamento do Estado há-de ser cada vez mais problemático, face ao aumento das despesas e à diminuição das receitas que o envelhecimento da população necessariamente acarreta.
O programa do actual governo aborda a questão, apontando para um debate nacional a seu respeito, mas não indicando soluções concretas e imediatas. O ministro da Economia e do Emprego, Álvaro Santos Pereira, no livro Portugal na Hora da Verdade (Gradiva, 2011) realça a dimensão estrutural do problema e sugere algumas medidas, salientando que as despesas que possam envolver são necessárias, em contraste com as muitas sugestões de eliminação de despesas públicas que também constam desse livro. Mas essas medidas são ainda pouco precisas ou insuficientes.
A imigração poderá atenuar o problema por algum tempo, mas não o resolverá: porque seria necessário um número de imigrantes muito superior àquele que as sociedades europeias estão preparadas para acolher; porque os imigrantes também tendem a reduzir o número de filhos e porque Portugal parece ter deixado de ser destino privilegiado de migrações (parece até que voltou a ser país de emigração).
Não será certamente a atribuição isolada de subsídios por ocasião do nascimento de crianças a influenciar a decisão de ter filhos. Há outros exemplos bem sucedidos de políticas que favorecem a natalidade. O sistema fiscal francês, por exemplo, assente no chamado quociente familiar (a fixação de taxas em função do rendimento dividido pelo número de filhos), associado a outras medidas, contribui para uma taxa de natalidade das mais elevadas (ou das menos baixas) da Europa. Assim também o regime de licenças de paternidade e maternidade na Suécia.
Há que favorecer a conciliação entre o trabalho e a vida familiar. E há que contrariar a tendência crescente para a precariedade laboral: nesse contexto a decisão de ter filhos é natural e permanentemente adiada.
Mas a chave da resolução do problema reside noutro plano. Por muito generosas e adequadas que sejam as medidas económicas e sociais de promoção da natalidade, elas não serão suficientes. Essa chave situa-se no plano da cultura e da mentalidade. Nenhuma das políticas acima referidas permitiu a algum dos países da Europa atingir uma taxa de natalidade que garanta a renovação das gerações. Dados recentes indicam que a queda da natalidade na Alemanha, uma das mais sólidas economias europeias, com generosas políticas de fomento da natalidade, não deixa de se acentuar.
Se olharmos à nossa volta, vemos que as famílias que optam por um número de filhos acima da média não o fazem por ter mais recursos ou facilidades do que as outras. Fazem-no, na maior parte dos casos, por uma opção consciente em favor da vida.
Antes de mais, há que acreditar na família como um projecto duradouro, assente num compromisso de doação total, não na volatilidade dos sentimentos. Só nesse contexto é razoável a decisão de ter filhos. As mais recentes alterações legislativas, que facilitam em extremo o divórcio e fazem do casamento o mais instável dos contratos, veiculam uma mensagem cultural de sinal contrário. Há que contrariar esta e outras mensagens deste tipo.
Importa contrariar a mentalidade que acentua o individualismo e rejeita os incómodos e sacrifícios que os filhos necessariamente acarretam. Mas há também uma mentalidade de aparente altruísmo que importa contrariar. A que se nota em expressões como esta: «aos meus filhos quero dar o melhor, e só posso dar o melhor a um». O melhor que se pode dar aos filhos é, porém, a possibilidade de conviver com vários irmãos, e assim beneficiar da melhor escola de socialidade (com as dificuldades inerentes a qualquer socialidade -- é certo).
Saber que a vida é sempre um dom que compensa todos os sacrifícios – só com esta consciência pode ser vencida a crise da natalidade.