quarta-feira, 6 de abril de 2011

Mira Amaral – um homem sem vergonha

Carlos Fonseca
Mira Amaral, engenheiro de base e economista por pós-graduação, resolveu sair também a terreiro e proclamar: “a economia portuguesa não aguenta mais impostos”. Ao estilo de sábio membro do ‘Conselho de Anciãos’, a ilustre figura avisa: “é urgente, é imperioso fazer cortes do lado da despesa…”. O aviso, claramente dirigido ao seu partido, é redundante, se tivermos em conta as posições da direcção do PSD, a quem, Mira Amaral, se pretende colar.
De há muito, a falta de vergonha dos homens públicos é fenómeno comum, mas Mira Amaral é um destro praticante da ignomínia. Integrou os quadros do BPI, transitando do adquirido Banco de Fomento, privatizado nos anos 90. No início da década actual, reformou-se do BPI com indemnização e pensão substanciais. Algum tempo depois, ingressou na CGD, por influência do PSD; porém, ao final de 18 meses, viria a deixar a instituição do Estado, com uma obscena pensão de reforma de mais de 18 000 euros mensais; e não foi o único, porquanto também o seu ajudante de campo e ex-secretário de estado, eng.º Alves Monteiro, teve percurso semelhante, embora a valores mais baixos. Até Bagão Félix, então Ministro das Finanças, benfiquista de alma e coração, ficou verde.
Hoje, Mira Amaral, administra o Banco BIC, ao serviço de Amorim e de Isabel dos Santos, a princesa do reino de Angola. Um homem que, além de retribuições de privados que não discuto, em função da desfaçatez de arrecadar cerca de 250 000 euros anuais de uma instituição pública, perdeu a moral – e igualmente a vergonha – para falar em desperdícios de dinheiros públicos, mormente em cortes de despesas.
Sr. Mira Amaral: ajude o País, prescindindo da abjecta situação de reformado da CGD!
Mas, na vida pública de Mira Amaral, existem outras passagens funestas para o País.
Como Ministro da Indústria de Cavaco Silva, entre 1987 e 1995, ordenou, por exemplo, o esquartejamento da estrutura industrial portuguesa. O processo de desindustrialização integrou, por exemplo, todo o grupo CUF / Quimigal e foi executado, por um outro homem de mão de Amaral, o célebre António Carrapatoso; homem que, há pouco tempo, esteve na Universidade de Verão do PSD, na qualidade de eminente prelector sobre problemas da economia portuguesa que ele, o seu chefe Mira e o supremo Cavaco tanto fragilizaram com uma política de privatizações, a favor de companhias estrangeiras, criticada publicamente por José Manuel de Mello, Lúcio Tomé Feteira e outros industriais.

A liberdade requerida por Paulo Portas

Heduíno Gomes
Para quem não conhece a história de Portugal do século vinte, fica a conhecê-la por Paulo Portas, a discursar no American Club (5.4.2011):  a I República endividou-se e depois, vejam lá, «perdemos a nossa liberdade». Credo!
É pena não ter especificado em que «perdemos a nossa liberdade». Deve ter sido por Salazar, no Estado Novo, ter activado a intolerante polícia dos costumes e ter mantido no RDM o profiláctico artigo 16. E também por manter proibido o aborto e a pornografia. Isto é, por o Estado Novo não ser liberalóide.
Pobre democracia-cristã portuguesa, que se encontra dominada por uns rapazinhos, rapazinhas, rapariguinhos e rapariguinhas liberalóides!
Para quando a acção concertada dos autênticos democratas-cristãos  portugueses para desalojarem da direcção do CDS-PP este pessoal menor?
Porque não se junta Paulo Portas a Santana e a Passos Coelho para fazerem um partido liberalóide de A a Z e deixar a democracia-cristã em paz?